Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Ao mesmo tempo que decorria a campanha contra o reino de Manufahi, no dia 25 de Março de 1912, começava em Ambeno uma revolta chefiada pelo régulo Dom João da Cruz Ornay. Os motivos dessa revolta? Eram vários e complexas. Mas a principal razão era a maneira pouco prudente como foi tratado o régulo de Ambeno pelo comandante de O-Cusse.
Conta-se que o liurai tinha uma irmã que se dizia formosa e prendada pela educação que recebera no Colégio das Irmãs canossianas em Dili. Aconteceu que o sargento dos moradores de Lacló, em serviço em Pante Makasar, apaixonou-se pela irmã do régulo e pediu-lhe em casamento. Dom João Ornay não concordou com essa proposta e, mandou castigar uma criada que servia de intermediária na troca de “cartas de amor” entre a princesa e o sargento. Sabedor do facto o comandante militar chamou ao comando Dom João Ornay e repreendeu-o diante de outros chefes e ameaçando-o com palmatoadas e prisão. “O régulo conservando-se calado, ouviu-o e chorou; levado o incidente ao conhecimento dos demais chefes, deliberaram todos tirar vingança”.
Aconteceu que o sargento Manuel Carlos Rodrigues (malae) se encontrava em Nucheno (actual Padiai). Os timorenses descobriram-no a descansar numa casa. Os homens de régulo amarraram-no com um cordas e, em seguida torturaram-no até à morte. O sargento depois de ter sido amarrado, “o régulo sentou-se em cima dele e, com uma pedra, foi-lhe partindo os dentes e a cara, passando depois a cortar-lhe os dedos dos pés e das mãos que distribuíram uns pelos outros, ao mesmo tempo que exclamavam: - este era o dedo que me dava bofetadas, este o que me dava pontapés, mas agora já não nos dão mais!
A seguir, cortaram-lhe os outros membros, até que morreu no meio de horroroso sofrimentos”. Era o dia 25 de Março de 1912.
Horas depois, Dom João Ornay saiu a encontrar-se com o segundo malae o sargento João Bernardino que ia a caminho de Oe-Cusse. “Ao vê-lo convidou-o a apear-se do cavalo para ir ver um porco gordo que tinha acabado de matar”. “O sargento não queira demorar-se mas acedeu ao convite. Apenas se apeou passaram-lhe uma corda ao pescoço para o prenderem, despiram-no e mataram-no pelo mesmo processo, apesar dos rogos e das súplicas das vítimas. Foi feito em bocados, conservando-lhe a cabeça, á qual arrancaram o coiro cabeludo para fazerem estilo.” [1]
Depois destes crimes, Dom João Ornay dirigiu-se ao comando militar do posto de Wine (Timor Holandês) e pediu auxilio. Quando o comandante lhe perguntou o que queria, o régulo respondeu” Fazer guerra até morrer”. O comandante holandês concordou com a ideia do régulo e até lhe disse mais: “se não se aguentar com eles, e precisar, acolha-se aqui”. O comandante convidou ainda o missionário de Oe-Cusse, padre António Januário de Morais para se acolher na região de Hau-Mene.[2]
Os homens de Ambeno conseguiram entrar no reino de Oe-Cusse obrigando o Régulo Dom Hugo da Costa, o comandante militar, o tenente de infantaria Jorge de Figueiredo de Barros, dois europeus e alguns chineses e 25 moradores a fugirem num beiro para Batugadé.
Por causa destes factos, o governo português tomou a decisão de enviar ao enclave a canhoeira Pátria para repor a ordem e a soberania.
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