Pelo Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Os “rebeldes” tinham atacado várias povoações com o intuito de travar o avanço das forças do governo. Nalgumas zonas por eles controladas haviam recolhido mantimentos, bens e gado no alto nas serras (fohon tutun).
O governador Filomeno da Câmara e os seus homens estavam decididos em avançar para Cablac combatendo os rebeldes no seu terreno. Mas devido à configuração do terreno e à existência de vários grupos de rebeldes espalhados pela região, foi preciso fazer primeiro o reconhecimento do terreno. As forças governamentais avançavam para Cablac em três frentes. Da zona Leste, com arrais comandados pelo capitão José Faure da Rosa; da zona oeste, os arraiais sob o comando do tenente António Valente de Almeida; da zona norte, o próprio governo e o seu quartel-general.
Nos dias 28 e 29 de Fevereiro e no dia 1 de Março de 1912, o reconhecimento do terreno foi efectuado pelo batalhão do Tenente Almeida e do padre Manuel Alves Ferreira, missionário de Maubara. Perto de Maubisse, travou-se o combate e uma bala inimiga tirou a vida ao padre Ferreira. O padre expirou às duas de madrugada do dia 2 de Março.
No dia 3, sai de Soibada, o destacamento do capitão Faure da Rosa ia exploras as regiões de Terás. Nesse destacamento ia como voluntário o padre Manuel Laranjeira, missionário de Soibada.
Entretanto na zona norte, o governador ordenava o reconhecimento das regiões de Manucate, Hatobessi, Maulau, Lequidoe e Turiscai.
No dia 7 de Março realizou-se a exploração das regiões de Manucate. Nesse tempo os rebeldes dominava as povoações de Tumau e Hatobessi. No dia 15, as forças governamentais fazem assalto ao monte de Tumau. Nesse monte os timorenses tinham levado para lá todos os seus bens, incluindo o gado: búfalos, cavalos e cabritos. Pela força das armas, os rebeldes foram obrigados a sair dos esconderijos deixando para trás muitos animais. Os moradores dos arraiais apoderaram-se de 112 búfalos e de alguns cavalos.
No dia 25 de Março, as tropas de capitão Faure da Rosa, depois de renhido combate, ocupava Fatu-Boi (Fatu Boe).[1] Nesta campanha as forças governamentais eram formadas por arrais de Samoro sob o comando de Liria Vidal Sarmento, e os arrais de Vemasse, Laleia, Cairui. Luna de Oliveira descreve assim Fatu-Boi, depois dos combates: “Fatu-Boi, posição naturalmente inexpugnável, sulcada em sucessivas linhas defensiva, biseladas na rocha, atravanca de arvoredo frondoso, era um cemitério ao ar livre. O cheiro pestilento, mal inumados empestava o ar. Cabeças dos mortos espreitavam á flor da terra, tal fora a pressa com que os enterraram” (Luna, III, p. 122). Depois dessa acção as forças tomaram sem dificuldade Dotic e Sarim[2]. O chefe do Suco Laca-Dala-Nai sucumbiu ao combate. A cabeça foi decepada e levada ao acampamento dosmalae como troféu. Nesse período ocupou-se Fatuberliu. No mês de Abril de 1912, as regiões a leste de Same estavam submetidas (Alas, Bibiçuço).
Na zona oeste alguns reinos estavam em rebelião. O reino de Cailaco persistia na rebelião e tentava seduzir outros reinos, como o de Atabai, o régulo Bere-Talo. Contra Bere-Talo, o capitão Fonseca Cardoso, comandante militar de Batugadé organizou uma campanha que decorreu entre os dias 3 e 10 de Março. O destacamento comandado pelo sargento Humberto Maria Fernandes era composto por 35 moradores.
Na zona sul (Suro) o destacamento composto por 50 soldados, 2 voluntários e 107 moradores controlavam as regiões de circunvizinhas à vila não impedindo a incursão dos “manufahistas.”
Entre os dias 17 e 27 de Março Atabai era atacada pelas forças do Capitão Fonseca Cardoso. Nessa operação participaram 456 homens: soldados do esquadrão de cavalaria da fronteira, soldados moçambicanos e um pequeno arraial de moradores de Balibó. Os rebeldes de Cailaco não queriam render-se pois declaravam que preferiam morrer nas montanhas e nos rios do que serem portugueses.
Em Manufahi, Dom Boaventura da Costa Souto Maior sentia-se mais isolado pois não recebeu mais adesões de novos reinos. Os seus homens, além de continuarem em sentinela nas zonas fronteiriças, iam consolidando as fortificações de defesa em Riac e Leo-Laco.
Mas na segunda metade do mês de Março de 1912, o governo viu revoltar-se Dom João da Cruz Hornay, régulo de Ambeno. A revolta de Ambeno será o tema do capítulo a seguir.
Porto, 6 de Janeiro de 2012.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
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